Nossa! Você mora no Amanda?

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Quem aí já não teve que reafirmar a resposta à famosa pergunta, espantosa e medonha: você mora no Amanda? Eu respondi inúmeras vezes a essas perguntinhas arregaladoras.

Desde a adolescência sou confrontado com esse tipo de espanto. Primeiro foi nas escolas em que estudei em Campinas, depois no decorrer da vida, no trabalho, no lazer, enfim na trivialidade dum bate papo. Até em namoro me deparei com caras e bocas, acredite. Sofri dupla discriminação de pais de namorada; por ser pardo e morador da quebrada, foi tenso.

Além disso, já ouvi e presenciei comentários sobre a fama de quebrada violenta. Geralmente de tipos sentados em poltroninhas dos Apês e conjugados emergentes em Campinas. Os bicos dirigidos a mim ao descobrirem que assentava morada na quebrada estão armazenadas na memória, e são inesquecíveis e cômicas.  Um misto de comédia e indignação. Como já ultrapassei a fase da rebeldia revolucionária encaro a situação com muita ironia.

Vez ou outra ainda me ocorre essas inquirições. Geralmente nos corres na rua, no trânsito, numa festa, enfim sempre surge aquela perguntinha assoberbada dum menudo, ou de alguma viúva da ditadura. Nossa! Você mora no Jardim Amanda, mas você fala tão bem. Acredite, nos avançados 47 anos de idade e 30 só de Jardim Amanda, me deparo com gente assim. Ossos do ofício.

“Nossa! Você mora no Jardim Amanda? Sim, há 30 anos. Graças a Deus, respondi”

Ainda hoje ouço resenhas como essa, e de quem sequer transitou pela Avenida Santana do começo ao fim. Quiçá a Avenida Brasil margeando os botequins e o vai em vem da comunidade.

As lembranças do Jardim Amanda dos anos 80 e 90 do século passado ainda é muito forte e flagrante no imaginário de muita gente do bairro, e não é saudosismo não, é valorização. Está certo que o bairro teve a contribuição da rapaziada dos artigos, mas os artigos de jornais e outros veículos de comunicação potencializaram a fama do Amanda.

Isso não tira a satisfação e o orgulho de compor as muitas histórias escritas no Amanda, de jeito nenhum. Muito pelo contrário. Como muitos outros moradores, tivemos a oportunidade de observar o desenvolvimento e o crescimento da quebrada. O Amanda é foda, o Amanda é nosso.

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