Mulheres no artesanato: principal força motriz dessa área da economia criativa ainda busca reconhecimento. Mulheres representam mais de 70% do número total de artesãos no país, e atuam como provedoras de suas famílias e comunidades, a partir do trabalho que desenvolvem
São Paulo, março de 2024 – No Brasil, cerca de 9,3 milhões de mulheres estão à frente de negócios (34% do total), segundo dados do IBGE de 2018, sendo a maioria deles associada à setores da economia criativa, como publicidade, arquitetura, moda, design, serviços de informática, comunicação, artes cênicas, e artesanato.
Em março, mês em que se celebra tanto o Dia Internacional da Mulher (8), quanto o Dia Nacional do Artesão (19), a Artesol, organização sem fins lucrativos que atua há 25 anos no universo artesanal, também comemora a chegada da 6ª edição da Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro (redeartesol.org.br). A iniciativa pioneira é a maior plataforma digital do setor, integrando mais de 10 mil artesãos de todo o território nacional, com o objetivo de facilitar o contato e as trocas com os agendes da cadeia do artesanato, constituída, na grande maioria, por mulheres. Segundo levantamento do Relatório Anual da Artesol de 2022, mais de 89% das pessoas compunham a Rede eram do sexo feminino, e quase 65% registrou ter algum dependente. No Brasil, o público feminino representa 77% do total de artesãos, de acordo com pesquisa realizada pelo SEBRAE em 2018
“Apesar do artesanato cultural brasileiro ser considerado um patrimônio imaterial nacional, ainda falta reconhecimento e visibilidade para as artesãs, que se dedicam ao processo artesanal e fazem dele sua principal fonte de renda. A missão da Rede Artesol é mudar essa realidade, aproximando essas mulheres de programas de fomento, lojas e espaços culturais, onde possam expor seus trabalhos e obter uma remuneração justa por eles”, comenta a Coordenadora da Rede Artesol, Helena Kussik.
Em 2022, o portal registrou 444.722 page views de usuários provenientes de 163 países diferentes, dado que revela o crescente interesse da comunidade internacional pelo que é desenvolvido pelos territórios criativos brasileiros (polos regionais de produção artesanal, que concentram artesãos, artistas populares, associações e coletivos que compartilham a mesma vocação, aprendida e ensinada por diferentes gerações) – de artesanato tradicional, popular, indígena, quilombola, de referência cultural ou contemporâneo conceitual.
Para a diretora executiva da Artesol, Josiane Masson, ainda que diferentes iniciativas atuem cada vez mais para fortalecer o artesanato de raiz cultural, o setor enfrenta grandes carências, como a falta de investimentos financeiros, ações de fomento, de acompanhamento e políticas públicas que impulsionem o imenso potencial de desenvolvimento socioeconômico que o segmento possui. “Quando olhamos para esse cenário sob a ótica da condição feminina na sociedade, entendemos que há ainda mais barreiras pra as mulheres artesãs, quando a essas somam-se a origem quilombola, indígena e ribeirinha, conseguirem o mesmo reconhecimento e remuneração que os homens”, completa.
As 205 associações registradas pela Rede Artesol, demonstram que, para além de desafios regionais e econômicos, é possível encontrar o artesanato nos quatro cantos do Brasil, principalmente no que tange a projetos que unem coletivos femininos. Alguns exemplos são a Associação Comunitária das Mulheres Artesãs de Itaiçaba (CE), a Cooperativa Bordana (GO), a Cooperativa Turiarte (PA), o Grupo Araucária (RS), as Rendeiras de Bilro da Vila de Ponta Negra (RN), a Cooperativa Mariense de Artesanato de Maria da Fé (MG), as Rendeiras da Aldeia (SP), a Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AM), Associação Arte no Quilombo (SP), Associação Linhas de Minas (MG), associação Fibrarte (CE), e muitas outras cooperativas e grupos familiares, que fortalecem a autoestima feminina, promovem a empatia, e o acesso à informação e educação para toda a comunidade que acompanha essas artesãs.
SOBRE A ARTESOL
A Artesol é uma organização sem fins lucrativos fundada pela antropóloga Ruth Cardoso em 1998, que atua na valorização do artesanato brasileiro junto a grupos tradicionais em centenas de núcleos criativos de produção artesanal de todo o país. O foco dos projetos da instituição é apoiar a salvaguarda do artesanato de tradição cultural nacional e gerar oportunidades de trabalho e renda para comunidades artesãs nas bases do comércio justo, com a visão de um Brasil mais próspero para os artesãos brasileiros. As iniciativas englobam a atuação na área da qualificação profissional, pesquisa e produção de conhecimento sobre o setor, por meio de laboratórios de inovação artesanal e mentorias em negócios que estimulam o empreendedorismo e a autonomia dos artesãos, além da realização de eventos culturais de abrangência nacional.
Fonte: Rede ArteSol